terça-feira, 19 de julho de 2011

Reflexões sobre o fim do mundo

Em meus 50 anos de vida tentaram matar o mundo muitas vezes. Videntes, pais-de-santo, astrólogos, autores de ficção científica e mesmo o maluco da esquina, a cada ano que chegava ao fim, tinham a sua teoria de que o mundo não passaria do próximo ano. Isso fora as proverbiais enchentes, furacões, terremotos, todos com intensidade muito acima do normal e com milhões de vítimas inocentes.

Lembro-me de uma previsão que sempre era repetida, ano após ano, quando eu era criança: a de que o bairro de Copacabana seria invadido pelo mar, numa enchente nunca vista. O número de vítimas causaria medo e espanto no mundo inteiro. E, a cada ano que passava, havia a sua cota de ressacas, e o máximo que acontecia era o mar atingir algumas garagens dos edifícios à beira mar, para desespero dos donos de automóveis. No final da década de 60 e início da de 70 o bairro foi aterrado e a praia recuou muitas dezenas de metros, mas as profecias, essas pareciam não recuar nunca.

A profecia mais estruturada que eu já ouvi sobre o fim do mundo proveio de uma interpretação de um conjunto de quadras de Nostradamus, muito em voga no início dos anos 80. Ela falava do surgimento de um anti-cristo no Oriente, um homem muito carismático, maldoso e poderoso que se chamaria Gog ou Magog. Ele causaria muito medo no mundo ocidental por ter dentes na garganta. Esse anticristo começaria uma 2ª guerra mundial contra o ocidente, na qual haveria uma batalha naval entre os EUA e a China. Os EUA venceriam a batalha, mas se arrependeriam profundamente de nela ter entrado. O Papa seria capturado e o Rio Sena em Paris ficaria vermelho de sangue. A contenta final, ou Armagedon, seria em território sírio, e tinha data marcada para acontecer: a primavera de 1999. Ela terminaria com a vitória das forças de Cristo e com o retorno Deste para a Terra, para julgar vivos e mortos. O pior de tudo é que eu, em alguns momentos, cheguei a cogitar de que tudo isso poderia acontecer de verdade.

Com o mundo caminhando em sentido inverso ao dessa nefasta teoria (por exemplo, a União Soviética foi desfeita e o Muro de Berlim foi destruído), os agourentos de plantão logo trataram de refinar outra profecia: a do bug do milênio. Segundo ela, os computadores do mundo inteiro “zerariam” na passagem de 1999 para 2000, com todas as conseqüências drásticas que isso poderia significar: desde o “sumiço” de dinheiro em contas bancárias ao disparo acidental de mísseis nucleares, o que poderia provocar o caos e – segundo os mais fanáticos – o fim do mundo. Já mais escolado, não acreditei em tal profecia, mas retirei um extrato bancário no final de 1999 para provar que minhas parcas economias estavam no banco, por mera precaução, é lógico. Desnecessário dizer que a precaução demonstrou ter sido inútil.

Agora inventaram uma profecia não tão sofisticada como a que eu relatei, mas que vem deixando muita gente de cabelo em pé, principalmente os mais jovens: trata-se do fim do mundo em 21/12/2012, data em que os antigos maias, civilização sofisticada que viveu no Sul do México e desapareceu misteriosamente pouco antes da chegada dos espanhóis, finalizaram seu calendário. A profecia é a de que esta data marcará o fim do mundo. Já se escreveram livros e até um filme foi lançado sobre esse tema, o que só faz exaltar nos jovens corações a dúvida e o medo. Se desta vez o mundo vai acabar realmente eu duvido muito, mas o futuro a Deus pertence. O fato é que essa cantilena já rendeu e continuará rendendo bastante dinheiro para os ficcionistas, que deverão ter um réveillon de 2012 para 2013 em grande estilo. Eu passarei o meu como sempre, tomando goles de champanhe nacional e me regozijando com o fato de que estarei um pouquinho mais velho, mas vivo e saudável.